Vuelvo al Sur

Com 12 anos fui morar com meu pai. A partir daí, minha relação com minha mãe era baseada em almoços de fim de semana para os quais ela invariavelmente chegava (extremamente) atrasada.

Acostumada a almoços que são quase jantares, a enxurrada de “estamos fechados” quando se tenta almoçar depois das 16hrs em São Paulo ainda me espanta. Foi assim que, depois de dar com a cara em algumas portas, fomos almoçar no La Frontera, restaurante argentino vizinho ao Cemitério da Consolação.

Ambiente agradável com janelas e ventiladores de teto;  bar aberto e quadro de giz com opções de vinhos na promoção; ao fundo, vê-se a cozinha que não chega a ser aberta, mas mantém uma faixa de vidro pela qual se pode ver os chefs e sous-chefs.

Mesas com pés de metal, cadeiras de madeira e toalhas alvas. Recebemos logo um pequeno couvert com pão, pasta de berinjela e azeite. O pão não estava quente e era um pouco massudo, mas a pasta de berinjela era deliciosa: bem temperada, com bastante manjericão e aquele leve sabor de fumaça por ter sido, provavelmente, assada na churrasqueira antes de virar pasta.

De entrada, pedimos uma linguiça picante (R$ 36); dessas que vêm servidas enroladas no prato, acompanhada de picles de cebola roxa, tomate assado e mostarda. A linguiça estava uma delícia: sem gordura e com pedacinhos de pimenta picadas que se via misturados com a carne. O picles de cebola tem bastante sabor de vinagre e o tomate assado estava um pouco verde demais (talvez para evitar que se desmanchasse na churrasqueira).

Como prato principal, o Marido pediu prime rib suíno (R$ 72) com molho poivre – uma mistura das duas coisas que ele mais come na vida -, e eu fui de Ojo de Bife. Apesar de o restaurante estar praticamente vazio (uma ou duas meses estavam lá ainda ao mesmo tempo que nós), os pratos demoraram um pouco para chegar. Mas tudo bem porque tínhamos nosso vinho para apreciar e tempo para desmistificar essa mania paulista de fechar os restaurantes às 16hrs em pleno sábado.

O prato do Marido, que era uma sugestão do dia, estava impecável: um filé suíno que vem servido com o osso  (como aquelas costeletas de cordeiro que parecem um “ponto e vírgula), suculento e com suco da própria carne como base para o molho de pimenta verde, acompanhado de purê de batata doce – aveludado e um bom contraponto para as pimentas verdes do molho – e uma pequena saladinha de rúcula. Mal deu tempo de pedir para provar um pedaço e o Marido já estava raspando o osso.

Meu Ojo de Bife (R$ 89) era, possivelmente, um dos maiores pedaços de carne que comi nos últimos tempos. O Ojo é o coração do contra filé, a parte mais nobre, macio e com gordura para dar mais sabor. Esse vinha com uma pequena capa de gordura na lateral, servido ao ponto para mal, no ponto certo de sal e tão macio, cortava-se quase como manteiga. Para acompanhar, purê de batatas, super cremoso e saboroso, e molho chimichurri, super bem feito, com ervas que ficaram curtindo muito tempo para dar ainda mais sabor. Uma versão mais chique de comida de criança; tão saborosa que me esforcei muito para comer o Ojo de Bife inteiro, mas não foi dessa vez.

Na hora da sobremesa, um susto: somente um item do cardápio tinha dulce de leche! Satisfeitos depois dos pratos principais e um pouco decepcionados com essa escassez de dulce de leche, pedimos a conta e fomos procurar uma sobremesa em outro lugar.

Ainda estamos decifrando algumas peculiaridades paulistanas e seguimos em busca de restaurantes para refeições em horários alternativos. Mas suspeito que minha mãe teria me matado de fome se tivéssemos passado minha adolescência por aqui (ou eu teria começado a cozinhar mais cedo).

La Frontera – R. Cel. José Eusébio, 105 – Higienópolis – (11) 32558867

Já foi lá? Não foi, mas ficou curiso(a)? Curtiu o post? Me conta tudo aqui!